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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Poema sem título - autoria própria



Queria uma poesia que fosse minha
Mas que, partindo de mim, fosse além
Uma poesia sem solenidades, nem bajuladores
Desfile de minhas dores
Que com as dores dos outros se encontram

Queria uma poesia crua
Alérgica a falsos rebeldes
A falsos profetas e estetas
Uma poesia sem projeto
Dejeto de um poeta sem jeito

Queria uma poesia que fosse livre
Sem compromissos e regras
Uma poesia que fale o que se sente
E não o que se mente
Companheira fiel de um poeta solitário

Queria uma poesia sem fachada
Com a liberdade de um beija-flor
Que não caiba no modernismo
Nem no parnasianismo
Mas que traga à ribalta
O sentimento que nela pulsa

Queria uma poesia que fosse a continuação torta da linha reta
Que conjugue os sofrimentos
Com as palavras
Que apesar de não trazer o pão
Monte o circo para quem precise rir

Queria a poesia que nascesse do riso de uma criança
Jorrando dos seus versos a bailarina
Que ignore as gaiolas e as celas
E que se veja em suas telas
A verdade do poeta

Queria uma poesia na qual houvesse vagas
Para a lágrima do pobre e do rico
Do feio e do bonito
Da virgem e da puta

Queria uma poesia
Sem bombas e guerras
Sem disputa de terras
Sem terrenos minados
Com versos cúmplices
Dos olhos de quem a lê

Queria uma poesia com chagas expostas
De onde latejam as respostas
Do que não havia perguntado
Nem percebido

Queria uma poesia raivosa e cínica
Com luvas de pelica
Uma poesia que fosse a encarnação moleque
(e sem derramar sangue)
Do dito de Theodore Roosevelt:
“Speak softly and carry a big stick”

Queria uma poesia que ignorasse o proibido
No poema
E que sem dilemas e problemas
Recorresse a toscas aliterações
Na jusante das emoções

Queria uma poesia onde o erro abundasse
Mas que, nelas, o erro também se jactasse
Da sua sincera vontade de acertar

Queria uma poesia que se sentasse
Nos saraus dos colégios
E conversasse com as poesias adolescentes
Sem saber
Qual era a melhor ou a mais bonita

Queria uma poesia que fosse
Exuberante na pobreza
Mas que, do seu texto,
Brotasse o contexto
Enraizado na alma

Queria uma poesia que fosse odiada e massacrada
Despida e humilhada
Apedrejada como se fosse Madalena
Tudo aceito, desde que ela, ao menos,
Se encontrasse com o sorriso
De um enfermo preso no hospital

Queria uma poesia que não apenas quisesse
Mas que tivesse e fosse
A expressão do que não sou

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Trecho de sermão do Padre Antônio Vieira

(...) Se vossos feitos foram romanos, consolai-vos com Catão, que não teve estátua no Capitólio. Vinham os estrangeiros a Roma, viam as estátuas daqueles varões famosos, e perguntavam pela de Catão. Esta pergunta era a maior estátua de todas. Aos outros pôs-lhes estátua o senado, a Catão o mundo. Deixai perguntar ao mundo e admirar-se de vos não ver premiado. Essa pergunta e essa admiração é o maior e melhor de todos os prêmios. O que vos deu a virtude, não vo-lo pode tirar a inveja; o que vos deu a fama, não vo-lo pode tirar a ingratidão. Deixai-os ser ingratos, para que vós sejais mais glorioso. Um grande merecimento sobre uma grande ingratidão fica muito mais subido. Se não houvesse ingratidões, como haveria finezas? Não deis logo queixas ao desagradecimento: dai-lhe graças.
Dir-me-eis que vedes diferentemente premiados os que fizeram menos, ou não fizeram nada. Dor verdadeiramente grande! Já disse uma rainha de Castela que os seus serviam como vassalos, os nossos como filhos. E não pode deixar de ser grande escândalo do amor e grande monstruosidade da natureza, que fossem uns os filhos, e sejam outros os herdeiros. Mas essa mesma injustiça vos deve servir de consolação. Se o mundo e o tempo fora tão justo que distribuíra os prêmios pela medida do merecimento, então tínheis muita razão de queixa, porque vos faltava o testemunho da virtude para que os mesmos prêmios foram instituídos. Mas quando as mercês não são prova de ser homem, senão de ter homem, e quando não significam valor, senão valia, pouca injúria se faz a quem se não fazem. Dizia com verdadeiro juízo Marco Túlio, que as mercês feitas a indignos não honram os homens, afrontam as honras. E assim é. As comendas em semelhantes peitos não são cruz, são aspa, e quando se vêem tantos ensambenitados da honra, bem vos podeis honrar de não ser um deles. Sejam esses embora exemplos da fortuna, sede-o vós da virtude: virtutem ex me, fortunam ex aliis.
Finalmente se os homens vos são ingratos, não sejais vós ingrato a Deus. Se os reis vos não dão o que podem, contentai-vos com que vos deu Deus, o que não podem dar os reis. Os reis podem dar títulos, rendas, estados; mas ânimo, valor, fortaleza, constância, desprezo da vida, e outras virtudes de que se compõe a verdadeira honra, não podem. Se Deus vos fez estas mercês, fazei pouco-caso das outras, que nenhuma vale o que custa Sobretudo lembre-se o capitão e soldado famoso de quantos companheiros perdeu e morreram nas mesmas batalhas e não se queixam. Os que morreram fizeram a maior fineza, porque deram a vida por quem lha não pode dar. E quem por mercê de Deus ficou vitorioso e vivo, como se queixará de maldespachado? Se não beijastes a mão real pelas mercês que vos não fez, beijai a mão da vossa espada que vos fez digno delas. Olhe o rei para vós como para um perpétuo credor, e gloriai-vos de que se não possa negar de devedor vosso o que é senhor de tudo. Se tivestes ânimo para dar o sangue e arriscar a vida, mostrai que também vos não falta para o sofrimento. Então batalhastes com os inimigos; agora é tempo de vos vencer a vós. Se o soldado se vê despido, folgue de descobrir as feridas e de envergonhar com elas a pátria por quem as recebeu. Se depois de tantas cavalerias se vê a pé, tenha esta pela mais ilustre carroça de seus triunfos. E se assim se vê morrer à fome, deixe-se morrer, e vingue-se. Perdê-lo-á quem o não sustenta, e perderá outros muitos com esse desengano. Não faltará quem diga por ele: Quanti mercenarii abundant panibus, ego outem hic fame pereo! E este ingrato e escandaloso epitáfio será para sua memória muito maior e mais honrada comenda de quantas podem dar os que as dão em uma e muitas vidas.

Poema para os filmes da Pantera Cor de Rosa - Autoria própria


Atrapalhada pantera, que riso nos espera?
Seu chefe louco, rouco, perdido, de um hospício conspira
Para fazer vingar no atrapalhado a ira

Sua arrogância inspira...e lindas mulheres suspiram
Será o atrapalhado amante bom diamante?
Seu fiel e nipônico escudeiro, brejeiro, está à espreita a sua espera
Riso no atrapalhar da pantera

Na mais sórdida das burrices, tornou-se brilhante
Interrogatórios vazios conduziam ao nada
E na total perdição matava-se a charada

Insólito herói
Seu pai tinha nos filhos a extensão da vida
Esqueceu-a, num altar de sacrifício ao riso

Soneto para o filme "O Poderoso Chefão" - Autoria própria


Grande e Poderosa família mafiosa
Família Poderosa refém do poder
Amaldiçoados pela sorte maliciosa
Infausto azar de ter todos a lhes temer

Atrás de si, rastro de sangue e choro
E bastardo filho de incerto vindouro
Família cuja vida renuncia o decoro
Irmãos que se matam neste vil nascedouro

Tristeza bem declamada ao som do violino
Na maldade que incomodou o sumo pontífice
Humanidade abandonada em remota ilha

Mas toda a verdade escondida no destino
No fim, um maléfico demônio lhes disse
Em braços que prantearam a morte da filha