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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Como eu não possuo – Mário de Sá-Carneiro

Olho em volta de mim. Todos possuem
Um afecto, um sorriso ou um abraço,
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço

Roça por mi, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente
São êxtases da cor que eu fremiria
Mas a minh´alma pára e não os sente!

Quero sentir. Não sei...perco-me todo...
Não posso afeiçoar-me nem ser eu;
Falta-me egoísmo para ascender ao céu,
Falta-me unção pra me afundar no lodo.

Não sou amigo de ninguém. Pra o ser
Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse – ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!...

Castrado d´alma e sem saber fixar-me
Tarde a tarde na minha dor me afundo...
- Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?...

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