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sábado, 1 de outubro de 2011

Tributo a Kafka - autoria própria

Kafka

I

Na porta há um porteiro
O porteiro da entrada
A porta está aberta
Mas há um porteiro na entrada
Como uma pedra

E o tempo apenas passa
Para o camponês
Diante da entrada
O tempo para o porteiro
Permanece parado
(Sem espera,
Sem mudança,
Sem preocupação
Com a esperança)
Enquanto isso,
Vê-se aberta 
A entrada

E há ainda mais
Outros porteiros
Diante de tantas
Outras portas
Adiante
Numa escala
Ascendente
De ferocidade

Mas no palco
Há apenas
Uma porta aberta
Um porteiro
Um camponês
Uma lei
Uma conversa
Um desejo
Uma intimidade (inesperada)
Uma espera
E o espectro
De um não

(Há uma imensidão de esperança no breve espaço de um passo
Atravessa-se um continente ao se passar por uma porta
Há uma vida que só vemos
                                   e sentimos
                                               na espera        
                                                           de um gesto
                                                           de um porteiro)
                                  
O que pede o camponês
No presente
Esteve sempre aberto
Mas apenas
No passado

II

O que se imputa ao acusado
Todos sabem
Todos ignoram
Todos se horrorizam
Todos sussurram
Todos se calam
E o acusado
Que sabe apenas
Sofrer
É condenado
Como barata
Na casa
De sua família
Metamorfoseia
Sua frustração
Numa carta
Ao seu pai
Autoridade

E diante
De uma máquina
Que tudo sabe
Sem perguntar
Que tudo entende
De torturar
Soube o acusado
Que a acusação
Não importa
É só fetiche
Ultrapassado

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